quarta-feira, 6 de novembro de 2019
O processo de luto e o fim dos relacionamentos
Era uma tarde quente e abafada, e Eros, cansado de brincar e derrubado pelo calor, abrigou-se numa caverna fresca e escura. Era a caverna da própria Morte.
Eros, querendo apenas descansar, jogou-se displicentemente ao chão, tão descuidadamente que todas as suas flechas caíram. Quando ele acordou percebeu que elas tinham se misturado com as flechas da Morte, que estavam espalhadas pelo solo da caverna. Eram tão parecidas que Eros não conseguia distingui-las.
No entanto, ele sabia quantas flechas tinha consigo e ajuntou a quantia certa. Naturalmente, Eros levou algumas flechas que pertenciam à Morte e deixou algumas das suas.
E é assim que vemos, frequentemente, os corações dos velhos e dos moribundos, atingidos pelas flechas do Amor e, às vezes, vemos corações dos jovens capturados pela Morte. (Esopo, Grécia Antiga, in Meltzer, 1984)
O luto é um sistema de sentimentos que acompanham o processo da perda de algo ou alguém, podendo ser um namorado (a), um familiar, um animal de estimação, um artista querido, um emprego, entre outros (estes são chamados pelos estudiosos de ‘objetos de amor’).
Segundo Freud (1917) ‘o luto é, em geral, uma reação à perda de uma pessoa amada, ou à perda de abstrações colocadas em seu lugar, tais como a pátria, liberdade, ideal, etc’.
É um processo doloroso e que não deve ser interrompido ou impedido, não é considerado uma patologia, pois é natural na vida de todos os seres humanos, a menos que essa reação seja extremamente exagerada ou causando dano excessivo à saúde física e mental. A perda do objeto amado é muito difícil no início, até que a pessoa se acostume à sua ausência e isso seja internalizado de forma gradativa.
Kubler – Ross propõe cinco estágios discretos pelos quais pessoas que estão lidando com a perda de um objeto de amor ou que estão em situações terminais costumam passar. Esses estágios são:
Negação – Dificuldade de aceitar e acreditar que isto realmente aconteceu, defesa contra a dor da perda. Pensamento: ‘Isso não pode estar acontecendo comigo’;
Raiva – Sentimento de raiva pelo o que aconteceu, pessoa sente-se inconformada. Pensamento: ‘Porque eu? Não é justo’;
Barganha – A pessoa percebe que a raiva não resolve nada, busca-se algum tipo de negociação interna para que tudo volte a ser como antes. Pensamento: ‘Me deixe viver/Não deixe ele (a) ir’;
Depressão – Sentimento de tristeza, culpa, desesperança, surge a percepção que a raiva e a barganha não resolveram nada. É quando o sujeito começa a tomar consciência da nova realidade que a perda traz. Pensamento: ‘Estou tão triste. Porque devo me preocupar com alguma coisa?’;
Aceitação – A pessoa não nega mais a realidade e procura aceitar a perda. Pensa em enfrentar a situação, começa a surgir um sentimento de paz, não de felicidade. Pensamento: ‘Tudo vai acabar bem’.
Não necessariamente esses processos ocorrem nesta ordem, eles podem se misturar e ir e vir em diversos momentos; também não são todas as pessoas que passam por todos eles, alguns podem passar por todos e outros por menos, mas ao menos um será vivido.
fonte: Mundo da Psicologia
Muitas vezes outro estágio aparece, o da culpa, mas geralmente quando se passa por esses cinco a pessoa tende a visualizar uma melhora em seu processo e bane esse sexto estágio. Entretanto, os que desenvolvem a culpa, tem uma chance maior de patologizar a situação, ou seja, de desenvolver algum tipo de patologia decorrente disso e precisar de tratamento especializado.
O luto decorrente da morte é encarado com maior naturalidade, pois além de acontecer com todas as pessoas, se sabe que aquele ser se foi e as lembranças boas permanecerão na memória e no coração. Já o luto decorrente do término de um relacionamento é mais penoso do que a dor da morte, pois aquela pessoa sempre estará ali, se relacionando com outras, quebrando promessas e sonhos que haviam sido feitos a dois.
Em geral diversas pessoas procuram acompanhamento terapêutico para esquecer traumas relacionados a relacionamentos que acabaram e nesse caso a culpa se faz mais presente, a pessoa pergunta-se porque não foi suficiente para manter aquela situação e acaba necessitando de ajuda especializada.
Muitas vezes uma situação que se apresenta ruim para nós tende a nos trazer grande aprendizado no futuro, além das histórias de superação e a possibilidade de auxiliar entes queridos caso isso ocorra para com eles.
Leia mais sobre as etapas do luto(Clique aqui)
Referências Bibliográficas
BAUMAN, Z ‘Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos’, Zahar, 2004
GOMES, C B ‘Luto’, Portal Educação, Outubro de 2013. Disponível em <http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/48519/luto> acesso em 15 de Dezembro de 2014
KOVÁCS, M J ‘Morte, Separação, Perdas e o Processo de Luto’
‘Psicodinâmica do luto’, Portal Educação, Abril de 2011. Disponível em <http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/10060/psicodinamica-do-luto> acesso em 15 de Dezembro de 2014
Tirado de: MundodaPsi
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